No Brasil atual, quatro tipos de “teologias” se destacam: (1) a teologia do fundamentalismo escrito; (2) a teologia da libertação; (3) a teologia da prosperidade e (4) a teologia da fé e razão na revelação cotidiana.
(1) A teologia do fundamentalismo escrito é a adotada pelas comunidades eclesiais evans (vulgo protestantes), segundo a qual a fé é superior à razão (o que se confirma com a afirmação de sola fides, dizendo que o que salva é só a fé e relegando para segundo plano o questionamento racional). Para essa teologia, só o que está escrito na Bíblia tem veracidade e confiabilidade, mesmo que possa vir a contrastar com um questionamento racional. Nesses grupos, opta-se por uma fixação e defesa de trechos, mesmo que não se perceba a existência de textos que divirjam dos mesmos. Provavelmente, crucificariam Jesus por curar no sábado, já que havia a norma “decalógica” de nada fazer no sábado. O maior representante dessa teologia é Martinho Lutero.
(2) A teologia da libertação, a qual aniversaria nesses dias, tem fulcro no marxismo e remete a uma luta de classes e a uma suposta libertação de toda força que possa estar no poder. Portanto, remete a uma luta perpétua e vê toda autoridade como opressora e inimiga. Certamente, insurgir-se-iam contra Jesus, que estava à frente dos doze apóstolos e que escolhera os 12 apóstolos para serem mais próximos d’Ele. O maior representante dessa teologia é Leonardo Boff.
(2) A teologia da prosperidade busca afagar o ânimo de querer o bem de si próprio e propõe ao crente a riqueza, o crescer economicamente mesmo. Envereda pela tentação que Cristo sofreu, de dar-lhe todo o poder no mundo e toda riqueza. Contrasta com o ensinamento de que não podeis servir a Deus e ao dinheiro. Provavelmente não aceitariam Jesus, por ser um Deus que se faz homem, o Criador que se faz gerado entre as criaturas, um rei que se faz pobre. E a pobreza, definitivamente, não é a proposta dessa teologia. Essa teologia não abraça a Cruz, pois a Cruz é sinal de humildade e libertação pela confiança em Deus. O maior representante dessa teologia é Edir Macedo.
(4) A teologia da fé e razão na revelação cotidiana é a que acredita que toda a revelação de que precisamos está nas Escrituras, mas que o entendimento delas nos é dado no íntimo do coração de cada um, no dia a dia, à medida que se abre o coração para apreender a Palavra e na medida em que a consciência é capaz da compreender, conforme a necessidade de empenho salvífico da época. É uma teologia que dignifica o homem ser reacional e o enleva, racionalmente e por meio da fé, à dignidade de inserção no Corpo de Cristo e crescimento em dons, graças e virtudes, n’Ele! É a proposta da Santa Igreja Católica.O maior representante dessa ideologia morreu crucificado, mas ressuscitou ao terceiro dia, seu nome é Jesus, o Cristo.
Claro que também há falsas teologias onde tudo é relativizado como o panteísmo, que acredita que tudo é Deus, onde não há alteridade e transformam Deus em um inventor, e não Criador, pois tudo seria deus e as coisas seriam coeternas. A relativização teológica assemelha-se à Roma Antiga, onde se acreditavam em diversos deuses e o aceitamento mútuo de uma pluralidade de deuses. Lá, os cristãos, que defendiam o Deus único e não se submetiam à adoração de outros deuses, eram perseguidos e entregues aos leões. Esse tipo de postura levou à morte diversos membros do Corpo de Cristo, que é a Santa Igreja, mas o sangue desses mártires encheu de vida e, sua memória na Santa Missa, alimentou a fé dos cristãos.
Não obstante esse despercebido resumo, em nossa época de declínio moral e espiritual, percebe-se a influência – direta ou indiretamente – de todos essas “teologias” no seio da Amada Igreja. A prova disso é que já houve pessoas que saíram da Igreja por não escutarem explicações racionais sobre passagens bíblicas; ou porque houve membros da Igreja que, em nome de um rubricismo (nome que se dá à cor rubra das normas formais, em textos litúrgicos), resolvem tratar mal as pessoas e deixar de lado a caridade e o respeito humano; ou pessoas que tão envolvidas com a dedicação à apresentação das coisas sacras, deixam de lado a sacralidade do íntimo do coração humano, que é imperceptível aos olhos; ou mesmo pessoa que acham que está todo mundo salvo e que quaisquer escolhas podem ser feitas sem prejuízo à salvação pessoal, pois tudo salvaria, Deus é misericordioso e no final das contas a pessoa encontrar-se-ia com Ele. Tudo muito lamentável.
Talvez eu devesse lamentar mais por não dar o testemunho que deveria dar, num mundo que tanto precisa de santidade. Mas também a razão pode resgatar-nos e as palavras, mesmo que por mim proferidas, podem servir de ponte entre o coração do leitor e o amor de Deus.
Há também o problema do agnosticismo e ateísmo, que simplesmente ignoram a Deus, desprezando as oportunidades de aproximar-se d’Ele ou mesmo pondo-se radicalmente contra Deus e tudo o que se refere a Ele. Para eles, matar Jesus não é tão sério, pois eles O matam em seus corações a cada dia.
Enfim, predomina e persiste, nos dias hodiernos, a teologia do eu, onde o prazer por se denominar a autoridade que vai dizer a si mesmo o que deve ser certo ou errado e que possa fazer as escolhas a que os impulsos interiores almejarem. É uma forma apurada de realização dos instintos, onde o homem não tem mais um propósito de realização como ser eterno, mas reduz-se à realização como ente deviente, no tempo.
Que Deus nos ajude a não imergir nesses caminhos das trevas, mas restaure-nos para a realização eucarística, educando-nos para o Céu, tirando-nos desse fel espiritual e protegendo-nos do Mal e de nós mesmos.
Que a fé e a razão, como asas que aprendem a voar à sombra do Onipotente, nos guie para a mais plena realização humana: ser em Cristo! Amém.
Dado em Maceió, 15 de novembro de 2011.
Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Poeta, filósofo, bacharel em Direito, pós-graduado. Professor de Eclesiologia e Documento de Aparecida, pela Escola de Missiologia/COMIDI-Maceió. Missionário Católico da Pia Escuderia de Sigmaringen.
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