A IGREJA - QUID ECCLESIA EST?
Por Alisson Francisco Rodrigues Barreto
Um dia, pensamentos vêm à tona e a pessoa se pergunta: o que é Igreja? Se o artigo definido feminino pode ser colocado antes dessa palavra, se ela é realmente una, como é que é? Como identificar, como conhecê-la, como vivê-la… E as interrogações podem perder-se na ignorância, ou encaminhar para respostas falaciosas, ou serem solucionadas em fonte verdadeira. Mas e as respostas?
Igreja é esse ente que transcende o tempo, habitando a terra, o Céu e o purgatório; que retira os homens dos caminhos de inferno e redireciona-os para o Seu caminho: o Cristo.
Igreja é o ente que acolhe os pecadores para fazê-los santos, para salvá-los, pois nada de impuro entra nos Céus. É a casa que acolhe os pecadores e nem por isso deixa de ser santa, pois sua essência é o próprio Cristo, e Cristo é Deus! E Deus é santo, é perfeito, é uno!
Assim também a Igreja é una, pois um só é o Corpo de Cristo, n’Ele não há divisões! E ao mesmo tempo é múltipla, em sua imensidão de dons e carismas, mas que remetem a um único Corpo. Sim, Cristo não é uma cabeça com vários corpos, mas é um só!
Só na Igreja o pão se faz Carne e o Corpo de Cristo é verdadeiro alimento! Se bem se soubesse, todos iriam adorá-Lo. A Igreja é, pois, Corpo de Cristo, meio de comunhão, lugar de adoração. A Igreja é lugar de purificação, de louvor e santificação; é erigida em Cristo e conduz à edificação.
Para compreendê-la e expressar amor, por diversos nomes é chamada, seja na Bíblia ou ao longo da estrada: é Campo, é Construção; é Mãe, Modelo e Esposa; é barca, é campo e é mistério. Igreja é de Cristo, com Cristo e em Cristo. Ela é por Cristo e Cristo age por Ela. Ela leva a luz de Cristo aos confins do mundo e a Palavra que sai de sua boca é recolhida por outros povos que, mesmo não a abraçando, partilham a Palavra, que saiu de sua boca. E continua a ser proclamada através dos tempos, trespassando o Universo, transcendendo os seus ouvintes.
A Igreja vive de um banquete festivo composto basicamente de duas mesas, onde a mesa de entradas é a chamada Mesa da Palavra, onde a voz de Deus se faz ouvir através do “ruah”, do sopro que sai dos seres viventes que ali A leem, proclamam-Na e A explicam. Tudo isso preparando o estômago espiritual de seus ouvintes, que degustam suas maravilhas em todos os sentidos: ouvindo a Palavra e suas músicas, vendo sua riqueza de símbolos, sentindo o cheiro provindo de seus turíbulos dourados, sentindo os apertares de mãos ao transmitir a paz de Cristo e, por fim, no momento máximo: a Mesa do Pão Celestial, onde é saboreado o Corpo de Cristo e o Sangue Redentor!
Naturalmente, essa festividade, também chamada celebração da Santa Missa é preparada na vivência do amor, exemplificada pelo lava-pés, é o ir ao encontro do outro. Como ensina São João Crisóstomo,
“Queres honrar o Corpo de Cristo? Não permitas que seja desprezado nos seus membros, isto é, nos pobres que não têm que vestir, nem o honres aqui no templo com vestes de seda, enquanto lá fora o abandona ao frio e à nudez. Aquele que disse: ‘Isto é o meu Corpo’, […] também afirmou: ‘Vistes-me com fome e não me destes de comer’, e ainda: ‘Na medida em que o recusastes a um destes meus irmãos mais pequeninos, a mim o recusastes. […] De que serviria, afinal, adornar a mesa de Cristo com vasos de ouro, se ele morre de fome na pessoa dos pobres?”[1]
Ora, “Contemplar Cristo implica saber reconhecê-lo onde quer que ele se manifeste […] A Igreja vive de Jesus Eucarístico, por ele é nutrida, por ele é iluminada”[2], como ensina João Paulo II. Foi na Eucaristia que os discípulos de Emaús[3] reconheceram o Cristo, é essencial que, nela, cada um O reconheça. Ao contrário do que dizem os relaxadores do sentido da Palavra, a Eucaristia não é apenas um dom, mas o dom por excelência.[4] É banquete do Corpo e Sangue e também o é memorial sacrifical, perpetuação sacramental do sacrifício redentor, cumprindo o “fazei isto em memória de mim”.
Portanto, não se pode falar em Igreja sem se falar em Eucaristia, que é onde se representa e se realiza a unidade dos fieis, constituindo-se em um único Corpo em Cristo.[5] A Igreja, através da Eucaristia (e dos demais sacramentes), conduz o homem, renovando-o e cristificando-o, sendo instrumento e vivência do Cristo, como o próprio Jesus afirma, “O que me come, viverá por mim”[6] e ensina: “Permanecei em mim e eu permanecerei em vós”[7]. E, assim, a missão da Igreja permanece em continuidade com a de Cristo, numa Tradição Pneumática.
É um só Corpo de Cristo, uma só Igreja. Um só Corpo santo, uma só Igreja santa (é santa n’Ele). Um corpo apostólico: erigido sobre o alicerce dos Apóstolos,[8] firmado na Pedra Angular, que é Cristo; celebrada de acordo com a mesma fé que os Apóstolos receberam diretamente de Cristo; e continua a ser ensinada, santificada e dirigida pelos Apóstolos até o regresso de Cristo.
Dessarte, como a Igreja é Corpo de Cristo, e Cristo é Deus, e Deus é amor: a Igreja vive constantemente o dever-ser de viver o amor em suas duas dimensões inseparáveis: vertical e horizontal, ou seja, de elevar-se a Deus e descer para ir, horizontalmente, ao encontro do próximo e aproximando os distantes. O que revela uma dimensão não só ecumênica, mas missionária e benevolente, fraterna, solidária, misericordiosa.
Tanto a Igreja é o Corpo de Cristo, que acolhe a Sua Mãe em sua casa! O Corpo de Cristo tem por mãe Maria e, procurando cumprir o mandamento de honrar pai e mãe, ama-a, respeita-a, dá-lhe flores, comemora suas festas, dirige-se a ela e a escuta! Desde o começo, como se pode perceber na união do “Fazei tudo o que Ele vos disser”[9] com o “Fazei isto em memória de mim” e na assiduidade aos ensinamentos dos Apóstolos e à fração do Pão.
Assim, é possível dizer: creio e amo a Igreja, que é o Corpo de Cristo, que é sua cabeça. Creio e amo a Igreja, que é una, santa, católica e apostólica. Creio e amo a Igreja, que tem Deus por pai e Maria por mãe, e juntos formamos uma imensa família que rompe as barreiras do tempo e do espaço, num amor que se realiza em Cristo.
*Alisson Francisco Rodrigues Barreto é bacharel em Direito (UFAL); pós-graduado em Direito Processual (ESMAL); filósofo (Seminário Nossa Senhora da Assunção); professor do Curso de Missiologia (COMIDI-Maceió); Missionário da Pia Escuderia de Sigmaringa.
Maceió, 27 de agosto de 2010
[1] Nota de rodapé, n.34. Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia. (vide tb. Jo 6,54; Jo 13,1-20; 1Cor 11,17-22.27-34)
[2] Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia. n.6
[3] Lc 24,31
[4] Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia. n.11
[5] Carta Encíclica Ecclesia de Eucharistia. n.21 (1Cor 10,17)
[6] Jo 6,57
[7] Jo 15,4
[8] Ef 2,20
[9] Jo 2,5
Parabéns pelos pensamentos, Alisson! Sua fé é inabalável!
ResponderExcluirMil